terça-feira, 30 de abril de 2013

Rio de Janeiro: a terra dos ônibus assassinos

Já deixou de ser absurdo para virar assunto imediato de medidas públicas.

Tornaram-se rotina no Rio de Janeiro acidentes envolvendo ônibus, seja com motoristas saindo na mão com passageiros, caindo de viadutos, subindo calçadas, entrando em prédios, ou, no mais comum, indo com tudo para cima de um ciclista. Ipanema é o bairro preferido. Pedro Nikolay, dentista e triatleta de 31 anos, morreu na manhã desta terça-feira (por volta das 6h) atropelado por um 433 nesse bairro tão cantado. As testemunhas disseram que o transporte público ultrapassou o sinal vermelho.

Há três anos eu pego quase todos os dias o 433. Agora a gente que usa transporte público, além de se preocupar em conseguir ficar confortável e não arrumar briga com um motorista que tenha tido um dia ruim, entramos com medo de estar em mais um veículo assassino. Deve ser terrível estar dentro de um automóvel que simplesmente passa, indiscriminadamente, sobre as pessoas nas ruas. Estamos acumulando medos ao sair de casa.

Isso sempre aconteceu, eu sei, mas está só piorando e ninguém faz nada. Daqui a pouco vai ter gente falando que motorista arrogante e assassino é cultural, que problemas de trânsito e morte nas vias da cidade são parte do 'estilo de vida carioca'.

De quem é a culpa disso tudo? Somos acomodados, isso é fato. Somos burros porque nos deixamos influenciar nessa atmosfera cômoda, também. Não podemos culpar os motoristas que precisam fazer jornadas até triplas de trabalho, que ganham mal e viajam horas só para pegar o ônibus? Claro que podemos! Nada justifica essas atitudes grotescas. Nada justifica o mal trato. Em qualquer trabalho do mundo a arrogância é punida. Não venhamos com papos de peninha. É preciso ter comprometimento. Se o motorista não se sente confortável em comandar uma máquina de porte inseguro, com o qual facilmente se mata... Se, além disso, ele não é capaz de entender que cuida de inúmeras vidas por dia, é melhor procurar outro emprego. Da mesma forma, se a cobradora não consegue passar o dia de trabalho sem dormir seis horas sobre o caixa, que dê lugar para outra.

Mas é claro que eles não são os únicos culpados. Não são culpados pelo país inteiro sofrer coma falta de logística e qualidade no transporte público (com o Rio de Janeiro em destaque negativo). Não são culpados pelos ciclistas que andam na contra-mão, muitas vezes carregando objetos enormes como pranchas de surf sob os braços. Não são culpados por receberem mal, nem por serem também maltratados por uma sociedade suja que, muitas vezes, os tratam como meros aparelhos de transporte e não como os profissionais e humanos que são. Eles também não tem culpa da lógica de trânsito brasileira ser baseada em leis selvagens.

Mas então, quem é culpado? De quem é a culpa por existirem cada vez mais acidentes, não só nas estradas como dentro das vias mais comuns da cidade? De quem é a culpa desses acidentes acontecerem das formas mais bizarras possíveis e todos os dias? Será que é das mesmas pessoas que deixam a criminalidade aumentar com estatísticas veladas? Ou será que são os que fizeram bilhões e bilhões serem gastos na preparação para a Copa do Mundo e só nos deram Estádios, como se fosse muito? Talvez sejam também os mesmos que tornam a comida e o aluguel a cada ano mais caros, com altas sempre muito a cima da inflação.

Já tem tanta coisa absurda acontecendo todos os dias e que nós nos condicionamos a tratar como naturais... Por favor, já somos muito pouco sensíveis e severos para deixar ficar ainda pior.

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