domingo, 16 de junho de 2013

Virou ditadura, virou guerra pela liberdade. #BrasilAcordou

A guerra entre manifestantes e polícia me fez pensar que havia acordado em uma ditadura declarada. Foi a primeira coisa que me passou pela cabeça quando vi as imagens dos confrontos.

A proposta de lei absurda para considerar certos movimentos sociais passíveis da interpretação de terrorismo me fez ver que estávamos por um fio. Terrorista não tem direitos, nem de ficar calado, nem de não criar provas contra si, por exemplo. Ou seja, a lei permite que ele seja "forçado" a falar. migre.me/f2dwo

Pois é, mas “provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade de pessoa, por motivo ideológico, religioso, político ou de preconceito racial ou étnico” está mais com a cara da PM do que dos manifestantes.

Agora, com as intermináveis informações de censura grosseira, idiota e extrema, com as ações abomináveis e veladas que, dos governantes, está cada vez mais se materializando na polícia... Não tenho dúvidas de que para chamar de ditadura falta só assumir.

A grande imprensa tapa os olhos vergonhosamente, mesmo que seus irmãos estejam sendo surrados na noite. Grande parte da população prefere acreditar no banal para se acomodar. Lá fora a porrada come solta. Esses nossos governantes, administradores e forças armadas não estavam acostumados com um povo que se faz ouvir. Por falta de costume, não sabem o que fazer... Quando a situação tomou uma força que eles não esperavam, deu-se a luz à ignorância pura e irrestrita. Acabam assumindo um papel velho, gasto e monstruoso que mistura terror e lambança.

Ainda bem que hoje temos o facebook, temos o twitter, o youtube. Graças a Deus estou descobrindo que posso confiar na força da minha geração. E, vou te contar... É muito bom ter o orgulho revitalizado.

A Copa do Brasil está aí, e já começou a servir de suporte ao governo "mentirinha" como foi em 70. Claro que, amante do futebol e do meu país, não consigo ignorar ou torcer contra, mas só no dia em que um jogador da seleção aproveitar seu destaque para criticar político eu volto a acreditar no patriotismo pela bola.

Não tenho que falar muito. Está tudo aí, aparecendo a cada segundo com mais força e absurdo, basta querer ver. Para falar a verdade, esse momento deixou mais do que claro que está na hora de voltar a fazer mais do que falar (ou curtir).


Para quem ainda não viu. Era para trabalhos como esse estarem passando em TV aberta para que os que aceitam engolir qualquer coisa formem uma opinião um pouquinho mais inteligente. É um absurdo, mas ainda tem uma galera que insiste em apequenar aqueles poucos que tentam fazer alguma coisa de verdade pelo país.

sábado, 4 de maio de 2013

Torcida, Mídia e o #TalibãTricolorÉdaPaz

Começou como uma brincadeira entre torcedores e chegou a ser notícia internacional. O "Talibã Tricolor" acabou ganhando expressão e veias de movimento. A torcida do Fluminense Football Club se uniu para postar, pelas redes sociais, fotos de apoio e garra ao time que se aproxima de jogos decisivos. Inspirados no apelido já tradicional "Time de Guerreiros", os torcedores amarraram as blusas do time sobre seus rostos e tiraram fotos para, então, disseminar pela internet. Foram mais de três mil tricolores diferentes com as blusas sobre seus rostos só na primeira madrugada. O nome, "Talibã" (do movimento fundamentalista islâmico, mas que também significa "estudantes" em Pachto), veio de maneira natural, dentro da brincadeira. Se, por um breve cuidado, o título usado fosse outro, nenhuma polemica estaria instaurada.

Mas por que a polemica? De certa forma, um falso moralismo está pesando sobre a mídia, que tanto luta para se crer independente e livre. Por que será que podemos usar expressões como "guerra", "batalha" e "matador" dentro de campo, mas não o nome do movimento Talibã? Por que será que temos torcedores consagrados por se vestirem da Papa e até de Osama Bin Laden (não só torcedores, a fantasia do lider radicalista responsável pelo 11 de setembro se tornou motivo de diversão pelos carnavais e festas de todo mundo) e nenhuma polemica nasce? Pelo contrário, dizem que faz parte do espírito de alegria?

Por que será, então, que uma campanha simples, despretensiosa e espontânea causa tanto reboliço? A moral tenta às pressas enforcar a expressão popular, como foi sempre na história, mas é tarde. A brincadeira virou movimento e já perdeu suas arestas. Ninguém mais segura.

Claro que qualquer incitação ao grupo fundamentalista é terrível, mas de forma alguma essa menção deve ser punida ou mal vista. Foi um ato descuidado que caiu em efeito dominó. Talvez, se os criativos torcedores que iniciaram a brincadeira soubessem o peso que a mesma tomaria horas depois, teriam uma ideia mais segura para o nome, e menos cálida. Aí sim, a brincadeira perderia boa parte de sua espontaneidade para dar lugar à autocensura. Seria algo sério, planejado e sem graça. Na falta desse "cuidado", a censura veio de fora, na forma de dedos indicadores trêmulos que não sabem bem para que lado apontar.

Mas não estão também tantos comediantes lutando pelo direito de brincar com a tragédia e fazer dela motivo de risos? O que pode ser melhor do que transformar a água em vinho? O que a torcida do Fluminense fez, mesmo sem notar, foi dar a uma palavra que se tornou terrível um novo simbolismo, melhor. Brincou com uma situação sem vontade de incitar nada. Se meteu em um terreno arenoso, de fato... E agora vai ter pagar por sua brincadeira descuidada. Com toda sobriedade do mundo, após serem julgados, os torcedores adaptaram o movimento a um #TalibãTricolordaPaz (para quem pingo não é letra), mas já era tarde.

Até aqui, falo de coisas que nos escapam. O que acho intolerável é que alguns jornalistas venham se meter nessa história de forma parcial e amadora. Claro que estou tratando de Mauro Cezar, da ESPN. Parece que certos comentaristas esportivos se envolveram tanto com sua bancada que já não têm a noção do que é futebol e do que é torcida. Passam tanto tempo debatendo, sob pressão, claro, que já estão pensando menos e falando mais.

Como figura pública, Mauro Cezar (que de jornalista tem bem pouco) deu um show de canalhice ao insultar de forma pesada a torcida do Fluminense pela sua conta no twitter. O tolo comentarista não apenas xingou torcedores e torcedoras de "patéticos", "imbecis" e "burros" como projetou comparações hediondas da brincadeira virtual natural dos tricolores com movimentos violentos de outras torcidas, sempre organizadas. Ele ainda ridicularizou as mulheres tricolores afirmando que estas deveriam ler mais (curioso) e por algum motivo místico, tentou ainda insinuar sobre o Flamengo, também comparativamente, baseado nesses seus conceitos deturpados. Pena.

Me parece que alguém capaz de tecer comentarios dessa estirpe entende bem levianamente a política, a história, as pessoas, e, muito menos, o próprio Futebol. Que ironia.

Não é um caso isolado. Tenho certeza que essa brincadeira que, de tão intensa, como é a própria torcida, tornou-se movimento natural, ainda vai dar o que falar. A mídia esportiva não está preparada para as torcidas brasileiras, aprendeu a ter medo, e com certa razão. Por isso, observa de longe e vê tudo embaçado. Um belo exemplo é o caso dos aplausos da torcida do Cruzeiro para Neymar (que fez três gols no 4 x 0 do Santos em BH, ano passado). Nesse jogo, um evidente ato de protesto debochado ao próprio time foi forçosamente interpretado com otimismo por toda a mídia, como se a torcida adversária estivesse se rendendo ao "talento de Neymar". Ao recorrer ao seu direito de protesto na mídia, alguns torcedores foram apontados como "desrespeitosos" e "minoria". Veja bem... Esse caso ainda daria muito mais pano para manga do que o atual.

Será mesmo que essa nossa mídia esportiva-comentarista entende as torcidas ou só sabe dar pitacos sobre a bola na grama? Está na hora de pensar um pouco, se dedicar mais e estudar muito. Se as torcidas estão agindo de forma correta ou não, é outra história. Na verdade, apenas sabendo como interpretar suas ações os comentaristas e jornalistas esportivos poderão ter algum peso de mudança. Caso contrário são apenas vistos como bobos.

Sobre a atitude tomada pela direção do clube (da qual muitos reclamaram e chegaram a classificar como medida invejosa diante da campanha publicitária "natural") acredito que foi certa. Diferente da torcida, o Clube é uma instituição cheia de respostas a dar. Assumindo ainda seu papel de órgão sério, reconhecido internacionalmente, achou por bem não apoiar o movimento/brincadeira e ainda pedir seu fim (quem sabe se atendessem pelo menos a metade dos apelos da torcida, essa mesma devesse dar alguma moral a tal pedido). O Fluminense tem um nome muito grande e respeitado para se envolver em polemicas desnecessárias, que poderiam denegrir a instituição que, por sua vez, está trabalhando sua marca de forma internacional como nunca. Infelizmente, as palavras foram muito mal utilizadas por eles - que "repudiaram" seu próprio corpo - assim como foi descuidada a escolha da torcida. Bem, a direção já deu seu recado... Agora, que volte aos assuntos importantes (como discussão de arbitragem e liberação do Maracanã, por exemplo)...

Já os jogadores que participaram da brincadeira cometeram, claro, um erro, sobretudo por serem a imagem do clube em campo, mas são completamente perdoáveis. Entendendo o incentivo da torcida e o tom descontraído, decidiram se mostrar mobilizados por mais uma expressão de apoio irrestrito originalíssima da torcida. Erraram, voltaram atrás e ainda tiveram a sensibilidade de se aproximar da nação, coisa cada vez mais rara.

Ps.: Como comentou um jovem tricolor: depois de matérias internacionais tão preocupantes sobre o movimento, só resta o FBI começar a investigar os torcedores do Fluminense.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Rio de Janeiro: a terra dos ônibus assassinos

Já deixou de ser absurdo para virar assunto imediato de medidas públicas.

Tornaram-se rotina no Rio de Janeiro acidentes envolvendo ônibus, seja com motoristas saindo na mão com passageiros, caindo de viadutos, subindo calçadas, entrando em prédios, ou, no mais comum, indo com tudo para cima de um ciclista. Ipanema é o bairro preferido. Pedro Nikolay, dentista e triatleta de 31 anos, morreu na manhã desta terça-feira (por volta das 6h) atropelado por um 433 nesse bairro tão cantado. As testemunhas disseram que o transporte público ultrapassou o sinal vermelho.

Há três anos eu pego quase todos os dias o 433. Agora a gente que usa transporte público, além de se preocupar em conseguir ficar confortável e não arrumar briga com um motorista que tenha tido um dia ruim, entramos com medo de estar em mais um veículo assassino. Deve ser terrível estar dentro de um automóvel que simplesmente passa, indiscriminadamente, sobre as pessoas nas ruas. Estamos acumulando medos ao sair de casa.

Isso sempre aconteceu, eu sei, mas está só piorando e ninguém faz nada. Daqui a pouco vai ter gente falando que motorista arrogante e assassino é cultural, que problemas de trânsito e morte nas vias da cidade são parte do 'estilo de vida carioca'.

De quem é a culpa disso tudo? Somos acomodados, isso é fato. Somos burros porque nos deixamos influenciar nessa atmosfera cômoda, também. Não podemos culpar os motoristas que precisam fazer jornadas até triplas de trabalho, que ganham mal e viajam horas só para pegar o ônibus? Claro que podemos! Nada justifica essas atitudes grotescas. Nada justifica o mal trato. Em qualquer trabalho do mundo a arrogância é punida. Não venhamos com papos de peninha. É preciso ter comprometimento. Se o motorista não se sente confortável em comandar uma máquina de porte inseguro, com o qual facilmente se mata... Se, além disso, ele não é capaz de entender que cuida de inúmeras vidas por dia, é melhor procurar outro emprego. Da mesma forma, se a cobradora não consegue passar o dia de trabalho sem dormir seis horas sobre o caixa, que dê lugar para outra.

Mas é claro que eles não são os únicos culpados. Não são culpados pelo país inteiro sofrer coma falta de logística e qualidade no transporte público (com o Rio de Janeiro em destaque negativo). Não são culpados pelos ciclistas que andam na contra-mão, muitas vezes carregando objetos enormes como pranchas de surf sob os braços. Não são culpados por receberem mal, nem por serem também maltratados por uma sociedade suja que, muitas vezes, os tratam como meros aparelhos de transporte e não como os profissionais e humanos que são. Eles também não tem culpa da lógica de trânsito brasileira ser baseada em leis selvagens.

Mas então, quem é culpado? De quem é a culpa por existirem cada vez mais acidentes, não só nas estradas como dentro das vias mais comuns da cidade? De quem é a culpa desses acidentes acontecerem das formas mais bizarras possíveis e todos os dias? Será que é das mesmas pessoas que deixam a criminalidade aumentar com estatísticas veladas? Ou será que são os que fizeram bilhões e bilhões serem gastos na preparação para a Copa do Mundo e só nos deram Estádios, como se fosse muito? Talvez sejam também os mesmos que tornam a comida e o aluguel a cada ano mais caros, com altas sempre muito a cima da inflação.

Já tem tanta coisa absurda acontecendo todos os dias e que nós nos condicionamos a tratar como naturais... Por favor, já somos muito pouco sensíveis e severos para deixar ficar ainda pior.

domingo, 21 de abril de 2013

Não se brinca com a comida. Publicidade intelignete e alimentação questionável.

Seus filhos comem fast food? Você come? Esse tipo de rede foi criado para otimizar sociedades, auxiliando o menor período de almoço dos trabalhadores. Uma ótima jogada econômica. Bem, esse é o princípio. Então, se você está sem tempo e faz um lanche em uma rede como o McDonald’s, a função real se cumpre. Ué, você come por que acha gostoso? Acha mesmo? Antigamente ninguém achava, comia para não perder tempo. Será que os produtos foram se sofisticando e ficando mais saborosos ou o público é que foi adaptado aos sanduiches de caixinha? Um pouco dos dois. Mas não se engane, há um esforço muito maior para treinar sua boca do que para melhorar os produtos. 

Neste domingo, 21, A Fundação Procon-SP decidiu manter uma multa de R$ 3.192.300,00 à rede McDonald's. A punição veio depois de uma denúncia feita pelo Instituto Alana, ainda em 2011, que questionou a venda de lanches respaldada por brinquedos e publicidade voltada ao público infantil. Não existe uma legislação tão específica que cubra esse tipo de caso, mas a decisão foi tomada a partir de um parâmetro bem claro do Código de Defesa do Consumidor, que aponta o “estímulo de hábitos não sadios pela propaganda” como irregular no artigo 37, parágrafo 2. 

Segundo o instituto, a rede McDonald's mantem práticas para pungir a formação de valores distorcidos em crianças, como o materialismo excessivo e hábitos alimentares insalubres. A empresa responsável pela rede no território brasileiro, Arcos Dourados Comércio de Alimentos, tentou recorrer, mas não conseguiu nada além de atrasar o processo. A multa foi aprovada em esfera administrativa e agora só pode ser contestada judicialmente. 

Estamos diante de um assunto complicado. Quando vamos falar de qualquer tipo de consumo que envolva o público infantil, presume-se que este grupo seja hipossuficientes, ou seja, que não tem capacidade de agir por si. As crianças são tidas como vulneráveis e facilmente influenciáveis por sua condição intelectual ainda desestruturada e flexível. Por tudo isso, as crianças são sempre legalmente protegidas. 

Ao utilizar uma tática mercadológica tão pesada para incentivar o consumo de alimentos maléficos à saúde, pode-se dizer que o McDonald’s está se esforçando para criar valores disformes nas nossas crianças e futuros cidadãos a partir da má alimentação (tendo em vista o quanto isso dura, nossos hábitos alimentares já foram corrompidos há tempos). A inadequação do cardápio desse tipo de lanchonete é incontestável. Os produtos das redes de fast food costumam ter uma taxa elevada em sal, gordura e açúcar, o que os torna, naturalmente, hipercalóricos. Ainda que uma criança ou adulto não necessariamente engorde consumindo recorrentemente esses alimentos (por pouca tendência ou outros hábitos saudáveis), certamente suas taxas sanguíneas são comprometidas. 

Para resistir à comprovada falta de compromisso com sua publicidade, vinculada à reeducação alimentar, há alguns anos o McDonald's passou a também vender seus brinquedos sem a necessidade da compra do lanche (por um preço bem salgado, quase relativo ao do pacote completo). Essa medida foi uma forma de se adequar legalmente. Em seus comunicados sobre o assunto, afirmar que a venda pode ser feita sem o consumo do alimento parece ser suficiente. 

A tática é conhecida como “reforço”. É como se a empresa falasse à criança “se você comer isso, o brinquedo vai ser seu”. Muitos pais usam esse esquema de recompensas para estimular seus filhos a comerem alimentos saudáveis e se habituarem a isso. Mesmo com a boa intenção, tal prática é muito questionável por se assimilar ao adestramento. No caso do McDonald's e empresas do tipo, a lógica é a mesma (“coma e ganhará um brinquedo” ou “Vá ao McDonald’s porque é lugar de comida pra criança”), porém o estímulo é de um consumo notoriamente nocivo. E não é só com brinquedos e brindes que se faz isso. Essas marcas apostam em embalagens criativas, atraentes e dinâmicas (que se assemelham às caixas de presentes), heróis da moda e até premiações relacionadas aos alimentos. Aos poucos, consumir aquele lanche vira um anseio, mas passa a não ter nada a ver com fome. Essa inversão de valores e manipulação de sentimentos é usada indiscriminadamente com todo tipo de produto. A ideia é fazer você acreditar que está comprando por uma necessidade, que na verdade não existe. Cá nos deparamos com a indústria das ilusões de prazer e realização. 

Claro que, se hoje o consumo é explosivo, isso começou com o aumento do mercado publicitário, que hoje está vinculado a praticamente tudo que podemos ver ou sentir. Criada no século XV, na Inglaterra, a lógica propagandista visava disseminar assuntos religiosos. Desde então, seu desenvolvimento foi avassalador, caminhando ao lado dos meios de comunicação destinados à massa (começando por panfletos e jornais periódicos até chegar à internet-móvel). Essa corrida incessante foi uma consequência da Revolução Industrial, integrando o as chamadas Revoluções Burguesas, quando o capitalismo deixou o comercial pelo industrial. 

O auge do desenvolvimento publicitário foi alcançando durante o início do Século XX, com o crescimento dos mercados produtores e consumidores em todo o globo. Nesse período a população mundial se descobriu havida por todo tipo de consumo. Somos até hoje. Aos poucos, os mecanismos publicitários vão conduzindo a sociedade. Sendo eles capazes de tudo isso, fica clara sua responsabilidade na alteração diversos hábitos que eram cultivados por muitas sociedades. Tudo isso justifica o alto investimento de qualquer negócio no campo publicitário. 

Não há vontade e nem muitos meios para se interromper esse processo, que já passou a ser natural, ainda que manipulado. Faz parte da lógica do sistema. A questão é quando esse trabalho afeta, de maneira grosseira e direta, as crianças. Como disse, no Brasil, essa problemática é posta dentro de um quadro jurídico de especial proteção da criança como consumidora. O tema é de suma importância para o nosso Direito. 

O poder da publicidade frente à formação do consumidor infantil preocupa, mas não vai desaparecer facilmente. Algumas pesquisas apontam que as crianças chegam a ser responsáveis por 70% das decisões de compra, e, pensando no futuro, representam fidelização para as empresas. Além disso, foi constatado que os pequeninos são responsáveis por 92% das escolhas nas aquisições em alimentos da família. A influência dos jovens entre sete e treze anos é apontada como “exagerada”. Obviamente, não sendo vista como um consumidor potencial imediato, a criança passa a ser tratada como um canal fortíssimo de comoção ao consumidor atual. Podemos observar esse apelo também na enorme quantidade de propagandas que envolvem imagens de bebês ou crianças bem novas com atitudes comoventes ou carismáticas (fofas). 

A cada ano uma quantidade inestimável de valores é movida para que se compreenda melhor o público infantil e, assim, o atinja comercialmente com roupas, brinquedos, alimentos, etc. A cada ano o conteúdo para essas crianças cresce e se torna mais descartável. 

A publicidade no campo dos alimentos estimula seu consumo excessivo e pode ser considerada responsável em grande parte pelo aumento da obesidade entre crianças. Com a popularização da informação, principalmente pela internet, as empresas produtoras de material nocivo tiveram que rever seus conceitos com a pena de perder o público. A saída foi apostar em uma tática muito antiga, mas que dá certo. Voltamos a ideia de vender mais do que só um produto, incluindo uma identidade ao consumo. 

As publicidades de refrigerantes, por exemplo, fazem associação de seu produto a uma vida feliz e saudável, da mesma forma que as extintas propagandas de cigarro assimilavam o fumo a uma vida ativa e aventureira. Na década de 1980, foi lançada a logo “Danoninho, que vale um bifinho”, o que fez com que vários pais desinformados adaptassem a alimentação de seus filhos, trocando a carne diária por um copinho da bebida láctea. No caso do McDonalds, temos personagens felizes e animados, brinquedos da moda e projetos como o McDia feliz, que reverte uma porcentagem mínima da venda de BigMc’s (principal produto da companhia) para o tratamento de crianças com câncer no Instituto Ronald McDonald (também é comum que estas empresas tenham instituições próprias de caridade). 

A publicidade que estimula o consumo exagerado de alimentos maléficos à saúde é a mesma que instiga padrões de beleza social, ou seja, desqualificando aqueles que estão acima do peso. Enquanto isso, segundo as pesquisas mais recentes, no Brasil existem mais de 44 milhões de famintos. Por outro lado, há 70 milhões de pessoas com o percentual de gordura bastante além do recomendado. 

O assunto é evidente demais para não ter respaldo no Congresso Nacional. Existem alguns projetos dedicados à publicidade infantil, mas nenhum deles pode ainda ser considerado efetivo. Em janeiro deste ano, foi aprovada uma lei municipal no Rio de Janeiro onde que prevê uma multa de dois mil reais por cada alimento que for comercializado com brinquedos. Em São Paulo, recentemente o governador Geraldo Alckmin vetou dois Projetos de Lei que tratavam da regulamentação da publicidade infantil. Um deles previa a proibição da venda de lanches com brinquedos e outro mitigava a publicidade para alimentos não saudáveis em horários comerciais para rádios e TV’s. 

O instituto Alana faz um ótimo trabalho cuidando da educação e defesa das crianças. Para saber mais, dê uma olhada em http://alana.org.br

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Um texto cru #Economia

Economia não se comenta, se especula. Existem análises e tendências, mas nunca certezas. Toda opinião se converte em aposta. É por isso que encontrei certa dificuldade ao tentar abordar o assunto por aqui, mesmo gostando muito. Não é um assunto popular, ainda que seja simples nos seus fundamentos. E é exatamente por ser simples que fica difícil falar. 

Sempre é necessário reciclar alguma explicação, traduzir termologias, e existe o perigo de que o texto se torne uma aula de economia. Se for para dar opinião, como disse, vou ter que fazer uma aposta... Deixo essa para meus amigos economistas e analistas que estão cansados de acordar e discordar todos os dias.

Mesmo com tantas suposições e comentários, há resposta para tudo nessa ciência e alguma hora elas chegam. Isso desacredita alguns e dá nome a outros. Claro que é preciso ter estudo e muita inteligência para lidar com a área, sobretudo para aplicar táticas e entender profundamente os mercados, mas, ao mesmo tempo em que a economia é formada de uma lógica de fios exatos, ela caminha sobre pretensões, jogadas e reações humanas. Como falar disso, então? 

Eu sei que o tema assusta, mas, com boa vontade e só um pouco de estudo, as coisas passam a fazer muito sentido. 

Cheguei a esboçar um texto falando sobre a decisão do Copom em elevar 0,25% da Selic depois de dez meses de queda e três de estática. Estava já na quarta lauda enquanto tentava abordar toda a história, as especulações, as coletivas do ministro Mantega, declarações do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e indicações da Dilma sobre o que poderia ou não ser feito. Iria trabalhar um texto sobre inflação, sobre como nosso trauma com esse assunto parece se esvair, falar dos Senhores do Tomate e etc. A importância da credibilidade do Copom e sua autonomia ante o governo. Por fim, explicar o quanto elevar a Selic muda a vida da pessoa comum. Depois de algumas páginas de texto, incluí até uma pequena recapitulação das crises de 2008 (imobiliária dos EUA) e 2010 (revelação das dívidas gregas) e o quanto esses choques estão ainda implicando na nossa inflação, que há quatro anos ultrapassa a média estipulada pelo governo. Cheguei a pensar em falar nas medidas da Dilma envolvendo a economia e o quanto ela está se tornando mais populista e menos séria com o financeiro do país. Muita coisa, né? Então... Por isso não funcionou. 

Meu erro brotou de uma realidade básica, que na hora não consegui ver. É difícil começar a falar de economia do nada, sem base, porque a economia plena só faz sentido quando sabemos também a sua história completa. Com a globalização, é praticamente impossível pensar no PIB de um país e em como movimentar seu capital sem ter um contexto mercadológico global. Também não dá para falar de economia sem saber geografia, política e história. Por isso o assunto vira um bicho-papão. E olha que estou tratando aqui só da macroeconomia (não pretendo me meter na ‘micro’, ainda que ache seu estudo extremamente interessante e necessário a todo cidadão). 

Bem, consegui desabafar um pouco sobre o assunto. Agora vem a parte mais importante: sou um grande defensor de que haja educação econômica nas escolas. Claro que o tema deveria ser discutido com suavidade e dinâmica, assim como todos os outros, e nossos profissionais da educação não estão preparados para falar disso (a maioria não está para quase nada). O modelo educacional brasileiro é sucateado, o que não é um mérito nosso. Ainda está para aparecer e se impor um estilo de educação perfeito, envolvente e fixante... Até lá, continuamos ensinando, do jeito que dá, matemática, física, português, química... E por que não economia? Acredito que toda pessoa que passa a ter noção desse campo pensa nos benefícios de sua inclusão à grade escolar. Quantos são loucos para começar um negócio próprio não fazem a mínima ideia da lógica econômica? 

Quantas pessoas que rasgam teorias políticas pelos calçadões não entendem qualquer medida federativa que envolva o Banco Central? Já que uma coisa puxa a oura, passo a contestar também a necessidade de uma base educacional que envolva o direto constitucional. Os jovens saem das escolas e das universidades sem sequer compreender como funcionam os três poderes. Pode isso? Não vejo outro motivo para estarmos estagnados no tempo. PENÚLTIMO LUGAR DO RANKING MUNDIAL DE EDUCAÇÃO! A falta de conhecimento sobre seu próprio país e o sistema que o rege pesa demais. 

Mesmo com toda a possibilidade economia favorável ao nosso Brasil, as oportunidades simplesmente passam mal aproveitadas. Países de tamanho bem mais reduzido e com capacidades financeiras incomparáveis às nossas conseguem formar povos muito mais civilizados e politizados. Por que será?

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Com a bunda na prova. O feminismo rompante.

Nesta quinta-feira saiu o resultado da correção das notas obtidas na prova de Pós-graduação em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Mariana Gomes, de 24 anos, tinha obtido o primeiro lugar no exame, mas depois do ajuste ficou em segundo. A ilustre desconhecida não pode se queixar, como não deveria qualquer outro em seu lugar. Primeiro porque está dentro de uma das melhores universidades do país com uma colocação ótima, segundo porque seu projeto “My pussy é poder – A representação feminina através do funk no Rio de Janeiro: Identidade, feminismo e indústria cultura" rendeu mais do que uma pós. De acordo com a matéria publicada no portal g1.com, o projeto tinha como objetivos, por exemplo, desconstruir o funk como "o último grito do feminismo através das músicas de Valesca Popozuda, Tati Quebra Barraco, entre outras". Mariana Gomes se transformou em uma bandeira descartável do feminismo revisto, tornando alguns curtidores do Facebook quase devotos. Será que amanhã alguém se lembra dela? Bem, não vamos entrar nesse mérito.

O importante aqui é usar o caso como gancho. Acho muito feliz o fato de não ter havido preconceito na hora de selecionar o projeto da Mariana para a pós. Ainda assim, o tema é algo apelativo e não se sabe o quão boa sua pesquisa era (nem nunca vamos saber). Não penso que a escolha de primeiro ou segundo lugar para um projeto como esse deva ser vista como conquista, mas com naturalidade e segurança. O destaque causa certa exclusão. No caso dos projetos acadêmicos, toda pesquisa é válida. Qualquer assunto deve ser tomado como produtivo e comum, afinal, a utopia das pesquisas é acumular o máximo de conhecimento possível sobre o mundo, isso inclui aquilo que é tido por comum, incomum, de classes e até vulgar pela sociedade. Por fim, vale lembrar que a estudante está produzindo uma pesquisa, ou seja, não é ela quem afirma nada, mas os dados apurados e comprovados que a estudante vai colher a partir de agora. A dúvida efervescida pela pesquisa é: as poucas cantoras de funk são um movimento de libertação ou só uma tendência de mercado? Há mesmo de se idolatrar as cantoras que se expõem com o corpo, voz, sensualidade e sexo como feministas da nova era?

Vamos nos aprofundar um pouco mais no caso. Pensemos no tema e na comoção popular. Quais são nossos ideais de feminismo? Quais nossas medidas de protesto? As mulheres vêm conquistando seu lugar de direito na sociedade, há muito disputado. Em certo ponto a igualdade entre gêneros é impossível, assim como a igualdade entre pessoas também é. Cada um tem certa habilidade, certo comportamento e humor, da mesma forma que homens têm uma estrutura física e mental diferente da encontrada nas mulheres. Todos sabem muito bem disso. Nessa lógica, deveríamos potencializar o que há de melhor em cada um em vez de tentar sempre tomar o lugar do outro. Que fique claro que não estou tratando aqui de direitos legais ou jurídicos, mas de papel social. Na questão dos direitos, a importância da igualdade nem deveria ser questionada.

O papel da mulher mudou, e muito, nos últimos anos. Sem dúvidas isso é uma conquista. Mas será que vale a pena tratar ainda o assunto como tabu depois de tantos avanços? Será que vale a pena glorificar alguém que quebra paradigmas pelo simples intuito de chocar e mover seu nome sob o preceito do feminismo? E mais, há algum sentido feminita na perda de sensibilidade e humanismo forçada por músicas de puro apelo sexual, onde não só mulher, mas também homem é tratado como objeto e toda relação entre sexos como um jogo?

Não tenho nada contra a Valesca. Na verdade, acho cantora bem autentica e tudo mais, ainda que não não veja graça no seu estilo. Não a conheço tão bem, mas arriscaria dizer até que é uma boa pessoa. Mas também não acredito nela como um símbolo de libertação feminina (algo que a própria pensa ser). Que tal pararmos de colocar tudo em pedestais? Estarão comigo também os críticos dos apelos feministas comuns na Europa, aonde as mulheres (várias vezes contratadas) exibem todo seu corpo despido na tentativa de chocar e chamar a atenção para sua causa. Utilizar a libertação do “sagrado corpo feminino” à sociedade é basicamente o que as cantoras do funk ‘subversivo’ fazem. Os níveis de vulgaridade podem ser debatidos, assim como a própria vulgaridade, mas o princípio é o mesmo. Por que fazer isso na Europa é bonito e aqui não?

Não sou um ativista feminista, mas estou fortemente a favor das mulheres. Mesmo assim, penso que alguns tipos de protesto e mobilização não causam nenhum efeito prático e talvez nem tenham mesmo um objetivo profundo. A exibição banalizada do corpo feminino sem um propósito claro acaba servindo apenas para tirar sorrisos babados de machos infantilizados. A atuação da Valesca e cantoras do gênero é sim um fenômeno de libertação feminina e quebra de paradigmas, como tantos outros menos apreciados. Ela atingiu seu ponto ao conquistar um lugar que era visado apenas para homens, ainda que para muitos isso possa ser visto como uma nivelação bastante rasa. Se homens podem ser reis, mulheres podem ser rainhas; se eles podem cometer suicídio, elas também podem; se eles cantam funk e exibem letras de forte apelo sexual, querendo, elas também devem fazê-lo. Mas será que querem pelos motivos certos? Será que a mulher se engrandece fazendo isso?

O feminismo se alcança a partir de atitudes diárias, como está acontecendo e como qualquer grande mudança social acontece. O processo para o nascimento das cantoras de Funk também foi assim. Por que recorrer a casos recordados para construir gritos de guerra? Será que estamos passando por um período sem ídolos, sem exemplos e sem lutas, em que enfrentamos o mundo mais por necessidade que por ter metas? Será que não conseguimos enxergar os objetivos reais? Será que estamos carentes de ídolos ideológicos e nos rendemos às primeiras imagens borradas que se dizem de protesto por pura insegurança?

Então eu volto a falar da estudante Mariana Gomes. Ela, que virou uma bandeira, mesmo que no mundo virtual, e mesmo que temporária. É um exemplo, é uma boa história... É mais uma mulher lutando pelos seus direitos e tentando entender o mundo. Que mulher é essa, qual sua formação e sua ideologia, não nos cabe agora. É interessante lembrar que pessoas como ela existem e estão questionando modismos e estruturas. Mariana está fazendo seu papel pelo feminismo e pela própria cultura ao trabalhar por conhecimento novo. É algum tipo de heroína? Não mais do que qualquer estudante, pesquisador ou trabalhador honesto. Parabéns pelo ingresso na pós!

Esse assunto abre as portas para falarmos do fenômeno de classes, de cultura, do popularesco e elitizado, da arte, do papel social, de religião e até de evolução. Daqui a pouco vamos chegar à política e ao futebol. Paramos por aqui. O recado já está dado e, se for possível, reflita. Afinal, tudo nessa vida é feito para se pensar.